Ela
Ela veio andando devagar, sentou, cruzou as pernas e ficou ali, me olhando. Lembro de tê-la visto algumas vezes antes, mas sempre de relance, ou só um vislumbre. Agora ela decidiu aparecer de repente e se sentar bem na minha frente, com aquele olhar que, se pudesse falar, diria “só não apareci antes porque você não estava preparado – não que agora você esteja, mas já passa da hora de tomar jeito”. E ainda finalizaria, quase um tapa, “então aprume-se, que você já é um homem feito”.
Mas que porra de mulher folgada, quem pensa que é pra falar assim comigo, ninguém fala assim... Ah, me rendo, tá certo, ela fala. Eu fico sem reação. E talvez ela ainda leia meus pensamentos, porque, veja bem, ela decidiu sorrir bem naquela hora. Ela estava ali sentada, sem fazer nada, e tinha o mundo inteiro de opções, ela poderia fazer qualquer coisa, qualquer uma! Mas decidiu sorrir, bem naquela hora. Eu estava tentando reparar na cor do cabelo, mas era difícil. Eram muitas cores. Não que fosse como um arco-íris, embora tivesse algum azul, verde ou rosa por ali (e nessas horas eu acho que ela usava uns piercings). Mas também era castanho, claro e escuro, algum ruivo vivo, louro (às vezes, só) e preto, aliás, principalmente preto.
Quando ela queria, estava de saias, ou então usava calças mesmo. As saias eram largas, de algum tecido leve desses que as mulheres usam quando está calor, e normalmente eram escuras. Ficavam bem bonitas quando parecia que ela andava por aí, porque aquele conjunto de saias, brisa, cores e caminhar era bem legal. E tava na cara que ela sabia disso. Mas quando usava calças, eram sempre daquelas mais justas, provavelmente porque combinavam com a camisa, vai saber. Eu gostava mesmo é quando ela vinha de vestidos, daqueles apaixonantes, sabe? Principalmente se fosse amarelo, quando ela tinha a pele mais morena, ou então azul. Não sei por que, azul sempre ficava bom. E ela sabia disso, sabia que eu adorava. Ela sabia de tudo e fazia bom uso do que sabia.
Naquele dia ela estava de vestido, claro. Azul, é óbvio. E cabelos pretos. Longos e lisos, daqueles que repousam gentilmente no peito e nos braços com alguns cachos nas pontas. Os olhos eram... ela estava meio longe, mas dava pra ver que eram castanhos. Linda como o sol. Não, não, era como a lua. Não que ela tivesse alguma coisa contra o dia, mas parecia ficar mais confortável com as estrelas em volta, e eram mesmo a companhia perfeita. Fora isso, tudo ao redor era prata. Sem dúvida nenhuma, era prata mesmo.
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=D
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