terça-feira, agosto 20, 2013

Às vezes paro e vejo em tudo tão pouco
Vejo as coisas bonitas, com suas variadas formas,
arredondadas, com luzes a lhes emprestar brilho
e vejo as árvores e as plantas a contornar gramados
com bancos, alguns de pedra outros de madeira,
onde se sentam as pessoas a ler o jornal, livro
pensar na vida enquanto vagam olhos às nuvens
ouvem, quem sabe, um riacho.

É tudo formoso, bonito, mas me desiludo
Vejo em tudo apenas coisas
- não obstante serem belas,
são tão somente coisas.
Apego-me a elas, verdade,
chego  a querer-lhes bem
como se quer a uma criança
ao cão que se vê na rua e
ao calor que dá no coração.
É porque vejo nelas a mim,
reflexo de parte de quem sou
num espelho da minha história.
Apego-me, agora sei,
a lembranças e imaginações,
pensamentos meus, próprios
meus, nascidos da infância, quando
tudo era bonito porque era novo.

Não penso que vou me desapegar de
tais coisas assim. Mesmo sendo coisas,
matéria bruta, calcária, guardam
em si, nas suas formas,
pedaço de quem fui,
portanto, de quem sou.

Vou, contudo, dar-lhes
cada vez menos, pois
de fato, penso que sei,
são para mim cada vez menos.
Vale a memória, o pensamento
vale o que sei
Não sou mais que isso,
coleção de pensamentos,
do que sei, do que li e vivi,
de alguns sonhos
e das lembranças que deixam.
Tudo em mim se mistura e marca.